O DEDO QUE APONTA A LUA
O fim da busca, do esforço e do pensamento volitivo.
A realidade e as palavras
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
”NENHUM FLOCO DE NEVE CAI NO LUGAR ERRADO”
A impermanência e transitoriedade é a característica inevitável de todos os estados e experiências. Não existe o estado perpétuo de eterna iluminação e bem-aventurança. Essa é uma ideia errada. Mesmo os mestres que admiramos e reverenciamos não vivem num estado de permanente nirvana e ininterrupta felicidade. Não acredites naquela história em que um autor fala de um passeio na floresta, um maravilhoso contemplar do pôr-do-sol à beira-mar, um acordar após uma noite de angustia existencial ou outra experiência qualquer, em que de repente é atingido pela flecha iluminada do nirvana ou um raio de compreensão súbita que lhe desvenda os segredos do universo, passando então a viver num estado de êxtase iluminado e felicidade permanente. Isso não existe! É apenas um estratagema literário que empresta certo colorido romântico à narração mas sem rigorosa correspondência na realidade.
Essencialmente todos passamos pelas mesmas dúvidas e perplexidades. Julgamo-nos já definitivamente instalados no jardim do Éden e constantemente nos vemos expulsos do paraíso. O jogo da mente é muito subtil. Consideramos um estado ou experiência como o correto ou satisfatório e quando outro estado se nos depara julgamos que há alguma coisa errada. Não há nada de errado se nós assim o não considerarmos! O problema só é criado pelo pensamento que julga, avalia e compara.
Para a nossa natureza original, o nosso ser mais profundo e essencial, não há quaisquer problemas, nem desejos ou aversões. Tudo o que surge é aceite e permitido. Devemos viver as coisas tal como se apresentam. Ninguém tem o controle. Nós nada podemos fazer. O segredo está em não discutirmos, não lutarmos com a vida ou com nós mesmos. Para sermos plenos e completos devemos permitir-nos experimentar tudo. O sábio não é um ser humano perfeito, é um ser humano total!
O desejo por experiências, mesmo as mais nobres e espirituais, é como outro desejo qualquer. Enquanto houver alguém a avaliar e escolher o que é espiritual e não é, a rejeitar uma experiência e a aprovar outra, a perseguir determinados estados particulares que se procuram repetir e capturar, estaremos sob o domínio da ilusão. Quando compreendemos que tudo é impermanente, já nenhum estado tentaremos produzir e nenhuma perturbação evitar, nenhum prazer desejaremos reter, nenhuma experiência conservar!...
Aquilo que realmente somos, a nossa natureza essencial, não tem nada a ver com estados e experiências de índole particular. O nosso Ser está presente em todas as experiências. Quando vivemos desde o nosso estado natural, da pura consciência impessoal que somos, não há desejo, nem esforço, não há rejeição disto a favor daquilo, não há escolha, avaliação ou comparação. Nem sequer há necessidade de palavras a tentar descrever, explicar, definir. Há apenas atenção e silêncio. Apenas disponibilidade e vazio. Paz! Quietude! E nem mesmo existe alguém para saber disto. Não há ninguém para saber coisa nenhuma. E é maravilhoso e magnífico! Mas não tem nada a ver contigo ou comigo. Nós nada podemos fazer. Nada podemos produzir. É Graça total!
Com a aceitação vem a paz. A constante atividade mental de calcular, julgar, interpretar, resistir é que complica a vida. Tudo flui, nada permanece! A vida é como um rio a correr. Às vezes a água vai mais clara, outras vezes mais turva, às vezes leva alguma sujidade, mas se não a estancarmos, acaba sempre por retornar à pureza original. O importante é não nos rebelarmos, não julgarmos que devíamos fazer ou sentir alguma coisa diferente do que fazemos ou sentimos, ou que as coisas deviam ser de outra maneira. Tudo é como deve ser! Tudo está bem como está! Ao longe todos os acidentes se alisam. À distância todos os percalços ganham sentido. Por maior que seja a agitação das ondas, sob uma perspetiva mais ampla o mar é sempre sereno
Como diz o ditado Zen, ”nenhum floco de neve cai no lugar errado”. O fim da dualidade significa o calar daquele comentador cá dentro sempre a emitir juízos e avaliações, a condenar ou a aprovar, a dizer o que é correto e o que não é, o que está bem e o que está mal. Nós somos imensos. Somos maiores do que a mente. Maiores do que qualquer coisa que possamos pensar. Do que isto trata não é de sermos iluminados e perfeitos. Trata-se de sermos íntegros, completos. O importante é aquilo que é real e não o que desejamos ou perseguimos.
A única coisa a que devemos aspirar é total e completa liberdade. E nunca seremos plenamente livres enquanto houver coisas que perseguimos e coisas que rejeitamos. Nenhuma moeda pode existir com uma única face. Queremos felicidade sem dor, mas não se pode ter um arco-íris sem um pouco de chuva. Por isso sê benevolente contigo próprio. Permite-te ser visitado por todos os anjos e demónios, "simplesmente não lhes sirvas chá", advertia um sábio mestre Zen. Eles vêm sem que tu os tenhas chamado e partirão do mesmo modo como vieram.
Uma história budista conta que certa vez um rei se dirigiu a um homem sábio para lhe pedir uma fórmula que sintetizasse toda a sua sabedoria. Então o sábio entregou-lhe um anel com um simples aforismo para o rei recordar em todos os seus encontros com a vida. Continha apenas três palavras: “Isto também passará!”. Esta história nada tem a ver com a atitude “new age”, nem é nenhuma apologia do pensamento positivo ou da coragem perante a adversidade. É um convite à descoberta de uma paz e serenidade que subjaz além de todos os estados e circunstâncias. Ao desapego e desidentificação perante todas as situações e experiências, tanto as de dor e sofrimento, como as de êxtase ou iluminação.
domingo, 13 de agosto de 2017
APENAS UM DEDO QUE APONTA
"As palavras são como um dedo que aponta.
Se fixas o teu olhar no dedo apontador
perdes a realidade para a qual ele está a apontar."
-Hui Neng
Quem tem alguma familiaridade com os textos e autores da "Não-Dualidade" talvez já se tenha deparado com alguma declaração a atacar ou defender os vícios ou virtudes do que se convencionou chamar de “Neo-Advaita” em oposição ao “Advaita Tradicional”. Esse é um exercício inútil e estéril. Cada pessoa irá acatar os livros ou tradições que mais ressoarem com a sua própria compreensão. Irá valorizar os mestres e autores que mais a ajudaram a clarificar a sua própria experiência. Cada um faz os seus próprios sublinhados nos livros que lê. O nosso próprio e direto encontro com a realidade é que será sempre o último juiz da verdade. Não precisamos de um guia para caminhar pois nós mesmos já somos a luz que ilumina o caminho.
A busca por certeza e segurança, pela tradição e os mestres corretos, é um empreendimento ilusório. A mente tem horror ao mistério e à incerteza. Mas qual a necessidade de certezas e garantias, de possuir a filosofia verdadeira, de seguir a tradição correta? Todos os homens verdadeiramente sábios afirmaram a impossibilidade de as palavras poderem expressar adequadamente a verdade. A realidade será sempre infinitamente mais vasta do que quaisquer palavras que nós usemos para a representar ou comunicar.
Seja qual for a declaração que se faça, podemos sempre encontrar um sentido em que é verdadeira e outro em que é falsa. Tudo depende da nossa perspetiva e do significado que atribuímos às palavras. Qualquer coisa que o pensamento construa, o pensamento pode destruir. Ao nível verbal e intelectual é sempre possível detetar inconsistências e contradições nos escritos dos grandes mestres do Zen e Advaita, quer sejam antigos ou modernos. Mas para quem vislumbrou, além das palavras, a realidade para que elas apontam, aquelas afirmações aparentemente contraditórias revestem-se de tremenda coerência e significado.
O Advaita, tal como o Zen-Budismo ou o Dzogchen, não ambiciona criar nenhum complexo e irrefutável sistema filosófico. Não tem finalidades especulativas mas sim pragmáticas. Nada acrescenta ao nosso acervo intelectual. Modifica a nossa experiência no encontro com a vida. É muito mais um processo de desaprendizagem e esvaziamento do que de aquisição. Através da eliminação de juízos erróneos e falsos conceitos, leva-nos a uma intuição direta da natureza da realidade e da nossa própria essência. Se algum tipo de conhecimento produz, é o mesmo que recomendava Sócrates e se encontra inscrito no átrio do templo de Apolo em Delfos : “Conhece-te a ti mesmo!”
A verdade não pode ser reivindicada por nenhuma espécie de clube privado, intitule-se ele de advaita, neo-advaita ou outro rótulo qualquer. Esse tipo de discussão poderá atrair o académico e o intelectual, mas é completamente desinteressante para o buscador sincero da verdade. Este sabe que a verdade não é posse de nenhum guru, doutrina ou tradição em particular. Não tem um pouso fixo ou morada certa onde devamos ir bater para a encontrar. A verdade vem-nos às vezes sob a forma de um romance, outras vezes de um poema; tanto pode ser encontrada nas páginas de um livro sagrado como nos graffiti das paredes subterrâneas do metro. Ás vezes escutamo-la nas palavras de um profeta, outras vezes nas perguntas de uma criança. Se estamos realmente despertos podemos reconhecê-la até nos sussurros da noite e no murmúrio do vento.
Ninguém possui a verdade, ninguém está na mentira. Há pontos de vista e não verdades absolutas. Fica com aquilo que mais ressoar com a tua própria experiência. Confia na tua própria percepção da realidade. Permanece aberto ao mistério e ao desconhecido. E quando a serenidade do teu espírito for abalada pelas sombras da dúvida e da incerteza, talvez possas reencontrar alguma paz ao recordar estes versos de Fernando Pessoa:
"A terra é feita de Céu
A mentira não tem ninho
Nunca ninguém se perdeu
Tudo é Verdade e Caminho."
quinta-feira, 6 de julho de 2017
O EGO E A BUSCA
“Observa a tua experiência e vê o que sucede quando te dás a oportunidade de experimentar a desorientação do buscador espiritual que deixa de procurar uma experiência diferente da que ocorre neste preciso instante. Talvez sintas que o buscador se dissolve e surge a paz, aquela paz que era perseguida pelo buscador.” -Adyashanti
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Problemas e Percepção
terça-feira, 25 de agosto de 2015
Mente, Consciência e Identidade
A questão da identidade essencial, a indagação em torno da pergunta “O que sou?”, constitui o núcleo à volta do qual gravitam todas as grandes tradições espirituais e religiosas.
É importante notar que não existe um "eu" e a "consciência" como coisas separadas. A consciência não é um atributo, não é uma coisa que tu tens, é aquilo que tu és. Só existe consciência e não um "eu" que é consciente. . Não são as pessoas que têm consciência, é a consciência que tem pessoas. A aparente existência de um "eu" como entidade separada, não passa de uma sensação ilusória e intermitente. É apenas mais uma manifestação que surge na consciência.“Quanto a mim, quando penetro mais intimamente naquilo a que chamo eu próprio, tropeço sempre numa ou outra percepção particular, de frio ou calor, de luz ou sombra, de amor ou ódio, de dor ou prazer. Nunca consigo apanhar-me a mim próprio, em qualquer momento, sem uma percepção, e nada posso observar a não ser a percepção.” -David Hume, Tratado da Natureza Humana
Os mestres Advaita terão reparado que o nosso verdadeiro ser, a nossa natureza autêntica e original, não pode ser nada de fenoménico nem ter qualquer marco temporal. Terá que estar sempre presente, não é nada que se possa perder ou adquirir e deve estar antes e além da mente e do “eu individual". Aquilo que és não pode ser definido ou formulado positivamente. Não podes dizer o que és, mas apenas aquilo que não és. Daí a expressão “Neti, Neti” (nem isto, nem aquilo), oriunda do antigo sânscrito, que significa que a verdade do que és, não é nada susceptível de surgir no tempo ou no espaço, nem nada que possa ser pensado, sentido, conhecido, experimentado ou verbalizado.“Compreenda que não é o indivíduo que tem consciência, é a consciência que assume inumeráveis formas. Esse algo que nasce ou que morrerá é puramente imaginário.” -Nisargadatta Maharaj, I Am That
Tu és aquilo que resta depois de descartares tudo o que participa do jogo da impermanência. Isto torna inúteis todos os esforços para apreender objetivamente essa realidade última, o ser essencial ou absoluto, já que todas as aparências surgem no campo fenoménico, pertencem ao mundo do tempo e do transitório. Qualquer coisa que possas conhecer e conceptualizar manifesta-se no plano consciente. E tudo o que surge no plano da consciência é temporário e impermanente. Por isso os budistas o consideram apenas aparente ou ilusório já que tem realidade meramente relativa e dependente. O mundo surge e desaparece com a própria consciência que o percebe. Sem consciência não há mundo.
A própria consciência é a única realidade estável e permanente em meio a todo este fluxo efémero e passageiro que constitui o mundo fenoménico. Paradoxalmente, a tua realidade mais íntima e essencial é algo que jamais poderás conhecer de forma conceptual e jamais poderá ser objeto de percepção ou experiência, pois é aquilo que está na origem de todo o fenómeno e torna possível todo o experimentar. Não podes conhecer o que és, apenas podes sê-lo!
domingo, 19 de julho de 2015
Intelecto vs Atenção
"Só o lago calmo reflete as estrelas" -provérbio Zen
domingo, 11 de maio de 2014
Porque não podemos encontrar a Consciência?
René Magritte -"Reprodução Interdita" |
"Não sei o que é conhecer-me. Não vejo para dentro. Não acredito que eu exista por detrás de mim." -Fernando Pessoa
Poucas expressões da "não-dualidade" ou do jargão espiritual são mais susceptíveis de confundir ou gerar errónea interpretação do que a sugestão de procedermos a uma rotação no foco da atenção e virá-la para o interior a fim de encontrarmos a sua fonte. Dizem-nos que para acedermos à nossa identidade essencial, conhecermos a natureza autêntica do que somos, devemos proceder a uma rotação de 180º no foco da nossa atenção dirigindo-a do exterior para o interior, dos objetos para a consciência. Quando ouvimos esta indicação podemos cair no erro de procurar ver ou conhecer a consciência do mesmo modo como vemos e conhecemos qualquer objeto da experiência. Procedemos a uma espécie de escrutínio interior em que fazemos desfilar mentalmente o reportório de tudo o que vemos e conhecemos até encontrarmos aquilo a que supostamente tal indicação se refere. Mas este modo de indagar está inevitavelmente condenado ao insucesso e à frustração. Qualquer coisa que possamos conhecer ou experimentar nunca será a consciência, porque a consciência já tem que estar presente antes de qualquer experiência ou conhecimento. Daí que o discurso da "não-dualidade" nos diga que "o buscador já é aquilo que ele busca", "a própria pergunta já é a resposta". Ao referir-se à nossa natureza essencial com palavras como "Ser", "Consciência", "Vazio", "Presença", "Absoluto", etc., o discurso não aponta para alguma coisa que precisamos encontrar, descobrir ou produzir através de algum tipo de atividade ou esforço. Refere-se ao próprio "Ver" e não a algo que tenha que ser visto. A própria formulação de uma questão, independentemente de qualquer resposta, já constitui em si mesma uma perfeita confirmação da presença da consciência.
A dificuldade é criada pela própria estrutura da comunicação verbal. Os nomes e palavras geram uma aparente dualidade e separação sujeito/objeto. Esta é uma inevitabilidade ao nível verbal. Mas a consciência nunca poderá ser objeto de experiência ou conhecimento. Jamais poderá ser convertida em objeto de busca ou indagação. Quem seria a entidade que levaria a cabo tal busca? Quem senão a própria consciência poderá ser já o sujeito desta indagação? Não podemos estabelecer divisões na consciência. Seria como se a consciência se alienasse de si mesma e andasse em busca de si própria. Percebemos o absurdo desta posição? A forma como inadvertidamente nos enganamos e iludimos a nós próprios? O pleno reconhecimento da consciência não é o fim exitoso de uma qualquer atividade inquiridora. A própria existência dessa atividade, independentemente de qualquer resultado ou conclusão, é já quanto basta para que a presença da consciência esteja perfeitamente estabelecida. É um reconhecimento que não se encontra no fim, mas logo no inicio de qualquer busca ou inquirição. É uma verdade implícita que qualquer manifestação torna evidente. Se eu vejo alguma coisa é porque sou dotado do poder da visão. Mas a própria visão não é algo que eu possa ver.
Perceber a consciência como a essência daquilo que somos é apenas um simples reconhecimento. Não se trata de qualquer realização a alcançar ou qualquer experiência que possamos obter através de esforço, do pensamento ou da imaginação. A consciência não é divisível. É una e não dual. Se aquela indicação (de dirigir a atenção para a própria atenção ou consciência) se converter para nós num problema, é preferível ignorá-la, pois na verdade não é uma expressão muito feliz. O efeito que ela produz no buscador assemelha-se muitas vezes à história Zen do peixe que percorre o fundo do oceano em busca da água. É por isso que o Zen afirma que andar em busca da nossa essência ou natureza budica, é como procurar um boi montado no boi.
Quando nos recomendam prestar atenção a tal ou qual som, imagem ou fenómeno, nós simplesmente viramos para esse objeto a nossa atenção; por isso, quando nos sugerem colocar a atenção na própria atenção, o nosso impulso imediato será procurar ver a atenção do mesmo modo. Mas tal propósito é irrealizável. A consciência ou atenção não é conhecida desse modo. O que se pretende é apenas que reconheçamos o facto dessa atenção existir, a presença implícita da própria consciência, o facto inegável de sermos conscientes. Apenas isso! Não é um logro a obter no futuro, mas sim um reconhecimento daquilo que já está presente. Esta constatação ou reconhecimento não depende de nenhum estado ou experiência em particular. É o fundo subjacente a toda experiência, estado, fenómeno ou percepção. Não importa que o teu estado seja de confusão ou de clareza, que sejas santo ou pecador, dominado pelo vicio ou pela virtude, visitado por anjos ou demónios, tudo é igualmente uma confirmação da presença da consciência, em si mesma vazia, transparente, incorruptível, imutável e atemporal. A ênfase é colocada não já nos objetos, mas antes nesta espaciosidade infinita e consciente onde eles aparecem. É tão óbvio, tão simples! Significa o fim de toda a identificação. Eu não sou nenhum objeto, sou a luz que ilumina todos os objetos. Não sou nenhuma experiência, sou a capacidade de experimentar. Não sou feito de nada do que vejo, sinto ou experimento, mas todas estas coisas são feitas de mim, são manifestação e expressão da minha existência. Tal como as dunas são formações de areia. As ondas desfazem-se, a água permanece. Sou aquilo que permite e possibilita que todos os objetos e todas as experiências surjam e desapareçam. Sou a ausência que permite todas as presenças, o vazio que acolhe toda a existência.
Não podemos olhar e conhecer esta consciência do modo explicito e objetivo como tudo é visto e conhecido. Não interessa que a busca seja direcionada para o exterior ou para o interior, o que quer que encontremos nunca será a consciência. Uma lanterna jamais poderá surgir no foco de luz que dela própria emana. Um dedo poderá apontar para qualquer coisa menos para o próprio dedo que aponta. O olho não pode ver-se a si próprio. A câmara fotográfica nunca aparece na fotografia. No entanto a fotografia torna evidente a existência da câmara. Nenhum objeto é a consciência. A consciência, no entanto, é a condição sine-qua-non do aparecimento de qualquer objeto. É uma verdade implícita e auto-evidente, pois mesmo ao pretender negá-la estamos a afirmá-la uma vez mais. A própria existência não pode ser negada sem que exista o autor de tal negação. Foi também isto que Descartes descobriu e procurou expressar no seu "Cogito". Não é possível alguém acreditar seriamente na afirmação "eu não existo", uma vez que terá que existir para produzir tal declaração. A apreensão da própria existência é intuitiva e imediata. A consciência é aquilo que jamais poderás ver ou conhecer objetivamente, mas cuja realidade é mais evidente e indubitável do que qualquer coisa que possas ver ou conhecer. Tu nunca viste e jamais poderás ver os teus olhos, mas tudo aquilo que vês aponta para a verdade irrefutável da sua existência. Neste sentido podemos dizer que o mundo visível e fenoménico é apenas uma seta que aponta para o invisível. Podes duvidar da realidade de qualquer coisa que vês, mas jamais poderás duvidar da existência dos olhos que veem. A consciência é sempre evidente. A única evidência.
É apenas isto que se pretende fazer notar ao ser-nos sugerido virar a atenção para a própria atenção. Trata-se de um um simples corrigir de uma distração. Um convite a recordarmos a real natureza do que somos. Para que a consciência não mais se veja ofuscada ou absorvida pelas suas diversas manifestações ou expressões. Não faz apelo a qualquer atividade com vista à aquisição de algo que não esteja já presente. Não podemos converter a consciência noutro objeto de busca, uma vez que tanto esse esforço como aquele que o realiza, são eles próprios aparições temporárias e transitórias dentro dessa consciência que, na verdade, sempre somos. Esta presença consciente é que constitui o único elemento imutável e permanente ao longo desse fluxo de percepções intermitentes e passageiras que constitui toda a nossa experiência do mundo e da vida. Apenas Consciência é sinónimo de Realidade. Só a Consciência É. Tudo é feito de Consciência. E como nos dizem os antigos Upanishades indianos: "Tat Tvam Asi" (Tu És Isso).
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Tu já és aquilo que procuras
“A verdade ou a realidade não pode ser armazenada, não pode ser retida - não é acumulável. O valor de qualquer intuição, compreensão ou realização só pode estar na eternamente fresca presença do momento. A realização de ontem não vale um pimento, agora está morta, já perdeu a sua vitalidade. É inútil procurar suster-se ou aferrar-se a algum insight, compreensão ou realização, porque só no seu movimento existe a possibilidade de que surjam sempre novas e frescas intuições sobre a verdade ou a realidade. A ideia da iluminação ou auto-realização como um único evento, ou como um estado ou experiência permanente ou duradoura, é uma concepção errónea”. - Sailor Bob Adamson
Não te aferres a quaisquer palavras ou conceitos, a nenhum estado, experiência ou conhecimento, porque ao fazê-lo acabas inevitavelmente por ofuscar a consciência onde todos esses elementos de forma espontânea emergem. Poderás registar as palavras que brotam da claridade e pretendem traduzir a compreensão, mas elas jamais poderão substituir aquela claridade que as fez emergir. Não queiras guardar lembranças através de palavras mortas. Só podes guardar conceitos, não a verdade. O homem pensante não pode captar o homem vivente. É este que integra aquele.
Podes invocar a memória de um estado, uma experiência ou um "insight" com a intenção de o reviveres, de o ressuscitares, ou de conseguires a fórmula da sua permanência. Mas repara, quando originalmente essa experiência aconteceu, foi ela resultado de alguma atividade volitiva da tua parte? Ela sucedeu na sequência de algum esforço deliberado tendo em vista produzi-la? Estava presente a memória de alguma experiência que se procurava ressuscitar? Foi produto ou consecução de algum desejo? Havia alguma intenção de alcançar algo, algum agente ou algum processo envolvido? Não, pois não? Ela surgiu de forma totalmente inesperada, não foi? Aconteceu por si mesma, de forma espontânea, sem qualquer intervenção consciente da tua parte. A verdade é que tu (a atividade do pensamento, do esforço, da volição, do cálculo e do desejo) não estavas aí quando isso sucedeu. A tua pessoa nunca foi necessária. Tu estavas completamente ausente. Então porque queres agora ser um interveniente no processo? Porque te queres tornar agora parte da equação? Não é essa atitude completamente ilógica e insana? Além disso, para quê despender esforço e energia em busca de uma experiência que pela sua própria natureza é efémera e transitória?
Andas em busca de Deus? Da felicidade? Da iluminação? De alguma suprema realização ou compreensão? Esquece tudo isso. As palavras geram uma aparente dualidade, uma aparente separação entre ti e a realidade. São estes conceitos que te impedem de ver que tu já és aquilo que procuras. Tudo está já presente. Nada da tua parte é requerido. Tudo é uma dádiva gratuita da consciência. Não podemos entrar no reino da felicidade, levando connosco a ganância, o apego e a cobiça. Esse reino só permite a entrada a quem se apresenta completamente despido no coração e no espírito. Neste caso a nossa vontade de posse e domínio só pode resultar na morte da galinha dos ovos de ouro. Erramos e perdemos ao procurar conhecer e conquistar. Jamais poderás ter a receita da felicidade, porque no reino da felicidade não entra aquele que sabe a receita e a procura aplicar. A felicidade é uma dádiva gratuita àquele que dela não se quer apropriar. Podes usufruir, mas jamais arrecadar.
Lamentavelmente a própria tentativa de comunicar isto por palavras pode, involuntariamente, acabar por pôr em marcha o mecanismo que é necessário suspender para que isto possa ser visto. Porque o acto de percepção imediata e direta da realidade acontece num nível diferente daquele que permite a tradução e interpretação verbal da experiência. Por isso talvez uma criança ou um homem sem instrução estejam em melhores condições de o apreender. Um homem que não aprendeu a ler poderá não entender a ementa dum restaurante, no entanto não verá diminuída a sua capacidade de se alimentar. Mas nem a mais completa e exaustiva das ementas poderá impedir que ele morra à fome, se nada tiver para comer. As coisas não são as palavras que inventamos para as nomear. O símbolo não é a realidade. O ver e experimentar não é função do pensamento ou da atividade intelectual. Esta atividade tem que ser posta de lado para que o ver tenha lugar.
Estamos a apontar para aquilo que é o indicador mais primordial, óbvio, claro e evidente da nossa existência: a presença indubitável da consciência. Nada mais do que isto. Nós somos esta consciência. Ela é tudo o que sempre julgámos que precisávamos de buscar sem nos apercebermos que nunca dela estivemos separados. Só ela representa a realidade última e primeira pois é a condição que precede todo o fenómeno e experiência. Como poderias pensar, sentir ou perceber seja o que for, sem que primeiro esteja presente a consciência que te permite pensar os pensamentos, sentir os sentimentos, perceber e experimentar tudo aquilo que percebes e experimentas?
Aquilo que sempre buscaste é na verdade a única coisa que sempre tiveste!... Porque é aquilo que tu és, aquilo que sempre foste e jamais deixarás de ser! Nunca serás nada menos e nada mais do que consciência. É só isto o que tens de reconhecer. Nada mais precisas compreender ou alcançar. Tudo o mais não passa de histórias e invenções da mente sem qualquer fundamento ou utilidade. Essas histórias não te podem ajudar, não te podem completar, nada te podem trazer ou acrescentar. Elas apenas te podem distrair do essencial. Tu já és completo, nada precisas buscar. A consciência que já és, é tudo o que precisas ser. É dela que se origina tudo aquilo que buscas e desejas, tudo o que alguma vez poderás almejar, sentir, viver, experimentar. Não precisas de um mapa para caminhar. Tu próprio já és a luz que ilumina o caminho.
terça-feira, 29 de abril de 2014
Nada precisas resolver
A maioria das publicações sobre a não-dualidade consiste na transcrição de diálogos e exposições orais que emergem de forma espontânea em palestras, encontros (Satsang) ou outras situações. Geralmente são respeitantes à superação de qualquer dificuldade ou obstáculo apresentado por um buscador em particular. As palavras e conceitos que então se utilizam não devem ser erigidos em verdades absolutas com as quais qualquer outra exposição verbal deverá concordar. As palavras e conceitos terão sempre um valor meramente relativo e contextual. Não existe qualquer conhecimento, doutrina ou conclusão definitiva que elas procurem transmitir. A sua finalidade é pragmática. São apenas um instrumento provisório que poderá ser útil para superar uma dificuldade ou esclarecer uma situação em particular. O que se procura é desmascarar o auto-engano, provocar um despertar ou tomada de consciência das múltiplas formas em que a mente nos procura iludir.
Nesta jornada de auto-conhecimento e libertação, todas as palavras, todos os conceitos e declarações verbais só poderão ter como destino final o seu próprio abandono e superação. A sua função é meramente instrumental. São como aquelas toalhas de limpeza descartáveis que se jogam no lixo depois de terem cumprido a sua função. A tua própria compreensão da verdade não tem de ser de acordo com as palavras de qualquer mestre, professor, doutrina ou tradição. A verdade e a compreensão não te virão através do esforço por decifrar qualquer dessas declarações, por maior que seja a autoridade ou veneração que concedas ao seu autor. Se a tua vida não está de acordo com as palavras de um livro, é o livro que deves queimar e não a tua vida, pois é a tua vida que é real. A teoria jamais se poderá sobrepor à experiência, que é a fonte de toda a teoria. As palavras só são significativas quando brotam do contacto direto com a realidade, isto é, quando são expressão do teu próprio entendimento, do teu próprio sentir e experimentar. Não é a verdade que provém das palavras, as palavras é que devem ser submetidas ao julgamento da verdade. Daí a sentença de um antigo filósofo grego: "Indaga as palavras a partir das coisas e não as coisas a partir das palavras!".
Quando o teu desejo por certeza e segurança te leva ao apego a
crenças, símbolos e palavras, confundes os conceitos com a realidade. Passas a
exigir que a realidade se ajuste às tuas palavras em vez de ajustares estas à
realidade. Entregas-te à construção de um castelo conceptual que te garanta a
segurança e certeza de estares na posse da verdade. Mas tal exigência jamais
poderá ser satisfeita e constantemente te verás na necessidade de o defender
contra o assalto de dúvidas e contradições. Porque as palavras e conceitos não
passam de ferramentas limitadas e imperfeitas para representar a realidade.
Quando julgas que a compreensão e a verdade poderá provir dos símbolos
e do pensamento conceptual, estás a exigir dos conceitos e palavras algo que
eles jamais te poderão dar. O estudo de um mapa não pode substituir a
experiência real de pisar o território.
As palavras que se revelaram esclarecedoras num determinado contexto, podem ser completamente disfuncionais num contexto diferente. Além disso como podemos ter a certeza de estar a atribuir às palavras de alguém o mesmo significado com que elas foram proferidas? Quanto mais enigmáticas e estranhas te parecerem as expressões que julgas ter de entender, mais te irás esforçar no sentido de as decifrar. Mas quanto mais intensa for esta atividade, maior a confusão em que te verás enredado. Porque não podes captar a essência de uma comunicação de forma abstrata e descontextualizada. Esta ruminação apenas te irá afastar daquilo que é verdadeiramente essencial: permanecer centrado nessa límpida e clara presença consciente onde tudo se origina e a que nada pode ser acrescentado ou subtraído. Tu já és essa presença consciente, sempre perfeita, eternamente brilhante e completa. Nada precisas buscar ou entender. Essa consciência que tu és é tudo o que tens de recordar.
Encontras-te envolvido numa batalha interior procurando conciliar palavras e conceitos? A desatar nós e clarificar significados? A deslindar aparentes paradoxos e contradições? Estás a confundir o mapa com o território. A desperdiçar energia num conflito supérfluo e inútil que em nada te poderá beneficiar. O salto para fora da mente não pode acontecer procurando satisfazer as suas intermináveis pretensões e exigências. Tudo o que o pensamento constrói, o pensamento pode destruir. A mente está sempre ocupada em destruir as suas próprias construções, sempre encontra mais uma pergunta para colocar, mais um problema para resolver. Desse jogo depende a sua própria sobrevivência. E entretanto a tua atenção deixa de estar focada no mundo da realidade presente e és arrastado para um mundo virtual e ilusório, meramente conceptual. É como se estivesses a assistir a um Western na TV e te atirasses para debaixo da mesa em busca de proteção dos tiros que acontecem no ecrã, ou te levantasses freneticamente em busca do impermeável e do guarda-chuva quando apenas assistias ao filme "Singing in the rain". A realidade está além da mente, dos seus jogos e dilemas e da sua interminável busca por respostas.
Para qualquer afirmação podemos sempre encontrar um sentido em que é verdadeira e outro em que é falsa, um ponto de vista que a sustenta e outro que a refuta, uma perspetiva que a confirma e outra que a rejeita. A mente alimenta-se deste inevitável dilema verbal. Irá sempre encontrar um novo problema para cada solução. Mas os paradoxos e contradições só acontecem ao nível conceptual, dizem apenas respeito a símbolos e palavras, não afetam a realidade. O conflito nunca é entre uma verdade e outra verdade, mas entre meras representações da verdade. Os problemas, dúvidas e confusões são sempre respeitantes ao mapa, nunca ao território. A realidade nunca é paradoxal ou contraditória. A realidade é o que é, independentemente das palavras que a pretendam descrever ou traduzir. Nenhuma confirmação lhe pode dar maior solidez e nenhuma refutação a pode beliscar. Um juízo falso pode ser desmontado no confronto com a realidade, mas a realidade jamais poderá ser determinada por qualquer juízo a seu respeito. Tu não tens que desperdiçar a tua energia a resolver problemas que apenas existem para uma entidade fictícia num mundo ilusório e irreal. Nada de fundamental se perde pelo facto de renunciares à luta e ao esforço para apreenderes palavras e conceitos. Tens apenas que despertar para a realidade imediata e presente que se encontra aqui, agora, e é independente de formulação verbal. O que é real é sempre claro e evidente e nunca é problemático ou contraditório porque não é um conceito mental.
De acordo com um provérbio Zen : "Se tu compreendes, as coisas são como são; se não compreendes, as coisas são como são!". Ou como dizia o célebre mestre Ma-Tsu: "A mente que não compreende é o Buda, não existe outra!". Isto significa que a natureza essencial da consciência que tu és, não pode ser afetada por qualquer dúvida, confusão ou incerteza e não é susceptível de qualquer aperfeiçoamento ou modificação. É sempre perfeita, completa e luminosa. O segredo da conexão com a misteriosa inteligência que rege o universo tem muito mais a ver com aceitação e confiança do que com luta e resistência.
As palavras e conceitos geram uma separação ilusória. Elas enganam-te e iludem-te. Então julgas ter que buscar algo que sempre tiveste. És como um peixe às voltas no oceano em busca da água onde nada. Tu não estás separado do que julgas andar em busca. O teu ser é uno e não dual. Tu próprio já és a verdade que sempre perseguiste. Nada precisa ser modificado ou melhorado, nenhuma pergunta respondida, nenhum problema precisas resolver. Não tens que lutar contra a confusão ou esforçar-te por buscar clareza. Aquilo que é verdadeiro e essencial não é uma realização a alcançar porque nunca foi perdido.
O discurso do sábio não pretende satisfazer o teu desejo de segurança e de saber, mas antes aniquilá-lo completamente. A busca e o esforço são sempre inúteis pois não existe a entidade que deles possa beneficiar. Não existe nenhum pensador que subsista quando o pensamento desaparece. Nada existe de estável no aparente individuo separado. Toda a atividade egocêntrica em busca de respostas, todo o apego e acumulação, todo o avanço e retrocesso em torno desta figura imaginária, tem a mesma utilidade e consistência de um livro escrito nas águas passageiras de um rio. É como vapor que se dispersa e desaparece. Por isso a busca é inútil e jamais pode ser satisfeita. Porque o ego que ela pretende preencher é totalmente ilusório. Despertar da busca significa simplesmente perceber que o buscador nunca teve existência real. Nunca teve maior consistência que um pensamento.
Não convertas estas palavras num outro problema a deslindar. Quem seria a entidade a lutar para o resolver? Não existe o individuo que supostamente iria beneficiar dessa atividade. Repara como o pensamento se encontra às voltas numa luta consigo próprio. Tal luta significa apenas que acreditas na existência de alguém (tu) que a pode travar e que através dela poderá evoluir ou crescer. É essa entidade que tem uma existência meramente fictícia, fantasmagórica, sem qualquer estabilidade ou permanência, nenhuma substância ou realidade. Todas as construções do pensamento têm a mesma consistência de figuras desenhadas na areia à beira-mar. São como nuvens dispersas pelo vento.
Permanece céptico e vigilante em relação ao canto de sereia da mente. Ela constantemente irá procurar atrair a tua atenção e envolver-te na resolução de problemas imaginários para uma entidade imaginária. Não tens que levar a sério as suas invenções. Tudo não passa de uma criação do pensamento. Evita sucumbir à sua sedução. Não permitas que a tua atenção seja absorvida pelos jogos da mente, pelos seus dilemas e sugestões. Permanece ancorado naquela realidade que não é produto da fábrica mental. Dirige a atenção para as sensações presentes no corpo. Através da consciência corporal podes sempre conectar-te com a realidade presente aqui e agora. Escuta o bater do coração, observa o teu próprio respirar, percebe os estímulos sensoriais presentes no ambiente. Não permitas que o riso das crianças e o canto dos pássaros te passem despercebidos. Que a tua atenção seja como o ar que invade uma habitação: que nenhum recanto por mais escondido, que nenhum espaço por mais afastado deixe de por ela ser preenchido. Sente a carícia do sol, a brisa do vento e o chão que pisas ao caminhar. Isto liberta o foco da prisão da mente e traz a atenção para aquilo que é real e presente. Coloca-te sempre num plano superior ao burburinho da mente. A mente é atraída pelas suas próprias construções, mas a consciência observa a própria mente. Cria alguma distância. Não te identifiques. Sê um observador de ti próprio. Nada disto és tu. Nada disto te pertence. És uma ausência plenamente presente.
Questiona a mente, os seus produtos e atividades, por mais
atraentes e irresistíveis que eles te possam parecer. Podes sempre abandonar os
problemas que ela insiste em te colocar, renunciar às batalhas em que ela te
quer envolver. Pergunta a ti mesmo se realmente necessitas da segurança que ela
te promete oferecer. Decide-te simplesmente a prescindir das soluções que o
pensamento constantemente está ocupado em procurar. Poderás descobrir que
nunca precisaste delas, que a mente apenas te pretende enganar. Somente aquilo que
permanece na ausência da mente, aquilo que resiste ao teste do silêncio, é que
é real.
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Mostra-me o Teu Rosto Original
"Mostra-me o teu verdadeiro rosto, o rosto original que tinhas antes dos teus pais serem nascidos." -Koan Zen