A realidade e as palavras

"Quando te questionarem acerca dAquilo, nada deves negar ou afirmar, pois o que quer que seja negado ou afirmado não é verdadeiro. Como poderá alguém perceber o que Aquilo possa ser enquanto por si mesmo não tiver visto e compreendido? E que palavras poderão então emanar de uma região onde a carruagem da palavra não encontra uma trilha por onde seguir? Portanto, aos seus questionamentos oferece apenas o silêncio. Silêncio... e um dedo apontando o caminho." -Siddhartha Gautama, o Buda






terça-feira, 4 de outubro de 2011

Paradoxos


Leio que me dizes que a verdade jamais me será trazida por um livro ou um guru Que tenho que a descobrir por mim mesmo. Isso foi o que fiz. Não acreditei em ti. Porque se acreditasse teria rejeitado o teu livro. E assim não me poderias ter feito compreender que a verdade não está no livro!
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Dizes-me para fazer silêncio e rejeitar a mente e o pensamento. Eu ainda te não compreendo. Mas vou ficar com este não-compreender. Porque se o quiser converter em compreensão terei que usar o pensamento. E tu dizes-me para ficar quieto e não pensar!


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Há já muitos mestres a escrever e a falar sobre aquilo que não tem nome, não pode ser posto em palavras e não se pode comunicar!


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D. Miguel Ruiz aconselhou-me a não acreditar em ninguém. Poderei acreditar no seu conselho?


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Falar daquilo de que se não pode falar é ainda procurar falar daquilo. Deixa-me então tentar não falar daquilo de que se não pode falar!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Perguntas e Respostas - Quem Compreende o Quê?

    "O dilema não é que o individuo compreenda ou não compreenda. O dilema é o individuo."    -Tony Parsons 

Isto é para ser compreendido por quem compreende. E isto é para não ser compreendido por quem não compreende. Tudo está bem como está. Só o esforço para converter o que é noutra coisa está a mais. Se não compreendes, mas não te esforças para compreender, então compreendes! Eu não falo de nada que requeira compreensão. Não há aqui nada a alcançar. Eu estou apenas a endereçar um convite que pode ou não ser aceite. Um convite à imobilização da mente, do tempo, do pensamento. E isto é apenas um modo de estar, de ser. Não é uma compreensão que se alcança.

A verdade não depende dos esforços que fazes para a descobrir. Tu nada podes fazer para que a compreensão aconteça. E nada podes fazer para a impedir de acontecer. Simplesmente para! Abandona os teus esforços para compreender. Permanece nessa confusão e não-saber. Então alguma coisa poderá suceder. Mas saberás que tu de nada foste o autor.

Tu deleitas-te a observar aquele globo prateado que aparece no firmamento numa noite de luar. Mas eis que uma nuvem passageira vem ocultar a lua. Tu queres ter de volta o luar e podes esforçar-te para arredar a nuvem que agora o cobre. Mas eu apenas te convido a permanecer imóvel e a contemplar aquela nuvem. Ela também tem, afinal, a sua peculiar beleza. Tu não a convidaste nem podes fazer  que se dissolva. As mesmas forças que a trouxeram se encarregarão de a levar.

O esforço para atingir a experiência de um outro a partir das suas palavras e símbolos é inglório e inútil. É uma necessidade ilusória. Cada um tem o seu próprio caminho a percorrer. Somos todos únicos. A totalidade de que somos constituídos é formada por um conjunto de acontecimentos e experiências que representa uma configuração única e irrepetível. Aquilo que um indivíduo recorda e lhe é significativo, outro indivíduo esquece como destituído de significado. Cada um de nós faz os seus próprios sublinhados nos livros que lê. Um indivíduo fica indiferente  a uma frase que para um outro se reveste de profundo significado e o abala de uma forma vital.

Eu vejo algo. E porque o vejo e a partir desse algo brotam as minhas palavras. Tu ouves as minhas palavras. E com elas e a partir delas constróis algo. O que te garante que esse algo que construíste com as minhas palavras é o mesmo algo a partir do qual as minhas palavras foram construídas?

Podes continuar a fazer perguntas e ficar ou não satisfeito com as minhas respostas. Mas na verdade não há qualquer entidade que possa beneficiar dessas perguntas e dessas respostas. Tu julgas que precisas das respostas às tuas perguntas para poderes atuar adequadamente, para reagires corretamente à vida e aos seus desafios. Mas na realidade, quando estás plenamente presente e a resposta é adequada e completa, não existe a entidade que perguntava e se satisfazia ou não com as respostas. A entidade que faz perguntas e procura respostas é uma entidade que apenas existe no processo de perguntas e respostas. A entidade que obtém respostas só existe no processo de fazer perguntas. A libertação e a plenitude do teu ser não é conseguida pelas respostas às tuas perguntas. Tu já és livre, pleno, completo antes de obteres respostas às tuas perguntas, e és livre, pleno, completo, depois de as obteres. És plenamente livre e completo mesmo antes que qualquer pergunta, dúvida ou questão seja formulada.

Nenhuma pergunta requer resposta, porque a única resposta sempre consistirá no desaparecimento daquele que faz a pergunta. A tua existência plenamente desperta, plenamente iluminada, plenamente consciente, não tem qualquer necessidade de fazer perguntas e de obter respostas. Por mais respostas e conceitos que procures acumular, o teu ser real constituí-se de amor. E quando amas, o amor preenche-te completamente. Não sobra qualquer espaço para ti, para o ego, para a aplicação de conceitos e respostas. Ages de forma espontânea e natural. A mente é que se alimenta de problemas, por isso necessita converter em problema tudo aquilo em que toca.

Queres ser iluminado? Nenhum peixe sabe o que é a água. Nenhuma criança ainda pequena sabe o que é a naturalidade e a espontaneidade; nenhuma águia, cujas asas se abrem naquela infinidade azul com desprezo pela terra inteira, sabe o que é a liberdade.  Aquele que é generoso desconhece a generosidade. A autêntica beleza nunca resulta da vaidade.