"O dilema não é que o individuo compreenda ou não compreenda. O dilema é o individuo." -Tony Parsons
Isto é para ser compreendido por
quem compreende. E isto é para não ser compreendido por quem não compreende.
Tudo está bem como está. Só o esforço para converter o que é noutra coisa está
a mais. Se não compreendes, mas não te esforças para compreender, então
compreendes! Eu não falo de nada que requeira compreensão. Não há aqui nada a
alcançar. Eu estou apenas a endereçar um convite que pode ou não ser aceite. Um
convite à imobilização da mente, do tempo, do pensamento. E isto é apenas um
modo de estar, de ser. Não é uma compreensão que se alcança.
A verdade não depende dos
esforços que fazes para a descobrir. Tu nada podes fazer para que a compreensão
aconteça. E nada podes fazer para a impedir de acontecer. Simplesmente para!
Abandona os teus esforços para compreender. Permanece nessa confusão e
não-saber. Então alguma coisa poderá suceder. Mas saberás que tu de nada foste
o autor.
Tu deleitas-te a observar aquele
globo prateado que aparece no firmamento numa noite de luar. Mas eis que uma
nuvem passageira vem ocultar a lua. Tu queres ter de volta o luar e podes esforçar-te para arredar a nuvem que agora o cobre. Mas eu apenas te convido a
permanecer imóvel e a contemplar aquela nuvem. Ela também tem, afinal, a sua
peculiar beleza. Tu não a convidaste nem podes fazer que se
dissolva. As mesmas forças que a trouxeram se encarregarão de a levar.
O esforço para atingir a
experiência de um outro a partir das suas palavras e símbolos é inglório e
inútil. É uma necessidade ilusória. Cada um tem o seu próprio caminho a percorrer. Somos todos únicos. A totalidade de que
somos constituídos é formada por um conjunto de acontecimentos e experiências
que representa uma configuração única e irrepetível. Aquilo que um indivíduo
recorda e lhe é significativo, outro indivíduo esquece como destituído de
significado. Cada um de nós faz os seus próprios sublinhados nos livros que lê.
Um indivíduo fica indiferente a uma frase que para um outro se reveste de
profundo significado e o abala de uma forma vital.
Eu vejo algo. E porque o vejo e a
partir desse algo brotam as minhas palavras. Tu ouves as minhas palavras. E com
elas e a partir delas constróis algo. O que te garante que esse algo que
construíste com as minhas palavras é o mesmo algo a partir do qual as
minhas palavras foram construídas?
Podes continuar a fazer perguntas
e ficar ou não satisfeito com as minhas respostas. Mas na verdade não há
qualquer entidade que possa beneficiar dessas perguntas e dessas respostas. Tu
julgas que precisas das respostas às tuas perguntas para poderes atuar
adequadamente, para reagires corretamente à vida e aos seus desafios. Mas na
realidade, quando estás plenamente presente e a resposta é adequada e completa,
não existe a entidade que perguntava e se satisfazia ou não com as respostas. A
entidade que faz perguntas e procura respostas é uma entidade que apenas existe
no processo de perguntas e respostas. A entidade que obtém respostas só existe
no processo de fazer perguntas. A libertação e a plenitude do teu ser não é
conseguida pelas respostas às tuas perguntas. Tu já és livre, pleno, completo
antes de obteres respostas às tuas perguntas, e és livre, pleno, completo,
depois de as obteres. És plenamente livre e completo mesmo antes que qualquer
pergunta, dúvida ou questão seja formulada.
Nenhuma pergunta requer resposta, porque a única resposta sempre consistirá no desaparecimento daquele que faz a pergunta. A tua existência plenamente
desperta, plenamente iluminada, plenamente consciente, não tem qualquer necessidade
de fazer perguntas e de obter respostas. Por mais respostas e conceitos que
procures acumular, o teu ser real constituí-se de amor. E quando
amas, o amor preenche-te completamente. Não sobra qualquer espaço para ti, para
o ego, para a aplicação de conceitos e respostas. Ages de forma espontânea e natural. A
mente é que se alimenta de problemas, por isso necessita converter em
problema tudo aquilo em que toca.
Queres ser iluminado? Nenhum peixe sabe o que é a água. Nenhuma
criança ainda pequena sabe o que é a naturalidade e a espontaneidade; nenhuma
águia, cujas asas se abrem naquela infinidade azul com desprezo pela terra
inteira, sabe o que é a liberdade. Aquele que
é generoso desconhece a generosidade. A autêntica beleza nunca resulta da vaidade.